janeiro 18, 2012

Vamos dar uma espiadinha?

Beira surreal o debate sobre o suposto caso de violação dos direitos da Mulher no reality show mais “amado” do Brasil, cuja punição ao suspeito foi a “eliminação” e a “recompensa” para a suposta vítima, a permanência no jogo de disputa dos R$ 1,5 milhão. Confesso que estou exausta, pela tentativa de seguir, desde os primeiros tuites, e perseguir, até as últimas notícias e comentários, a polêmica gerada no #BBB 12. É preciso um esforço intelectual, muitas vezes acima da nossa real capacidade, para ler, assistir, interpretar, entender e formular juízo sobre um fato que, por sua natureza, é também repleto de subjetividades. A violência contra a mulher é tão enraizada em nossa cultura ocidental e mercantilista que ignoramos o fato mais óbvio: a mulher é um produto. Quanto vale a vida de uma mulher? Quanto pesa o seu caráter? Quanto custa o seu corpo, sua nudez e seu sexo? “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”, disse o poeta idolatrado por dez entre dez publicitários. O que dizer das mulheres “fruta”? Figuras grotescas, difíceis de engolir... Qual foi a última vez que você ouviu uma canção que exaltava a mulher ou que declarava admiração a ela? E dançar? Em que lugar você dançou sem precisar rebolar até o chão, mostrar a calcinha ou fazer mímicas sensuais? Particularmente, evito ir às festas dançantes, para não pagar o mico de não saber cantar/dançar o hit do momento, e ter que repetir o refrão que, geralmente, sacaneia a mulher. Ainda dizem que o mundo é das mulheres! Mas, em que sentido se, diariamente, somos violadas? A maioria dos canais de televisão no Brasil tem se lançado com voracidade na guerra pela conquista dos mercados consumidores. Até os “canais religiosos” vendem – e como vendem! – produtos. Um dos alvos prediletos nesta guerra é a mulher. Alguma dúvida? Senão vejamos: da ponta dos pés a dos cabelos, para cada centímetro (por dentro e por fora) do nosso corpo há um produto correspondente. Para cada ocasião, cada estação, cada idade, cada cidade, há uma roupa adequada. Há um comportamento certo, na hora certa, com a pessoa certa! Atenção, perigo! Não saia do padrão, para não ser alienada ou engajada, mulherzinha ou sapatão! E a televisão reproduz, com a maior cara de pau, todos os estereótipos existentes e ainda cria milhares de outros! Como é difícil ser simplesmente mulher num sistema que, covardemente, nos rotula e nos estigmatiza. As imagens do encontro íntimo entre os dois participantes do BBB foram fartamente veiculadas pelas redes sociais. Eram tão agressivas (excitantes para muitos) que geraram uma onda de preconceitos e ódios - manifestações de flagrante retrocesso. Há mais de uma década, este programa está no ar – programa bom é assim no Brasil – e em quase nada contribuiu para o processo de construção de uma sociedade melhor, mais justa e igualitária. Ao invés de se aperfeiçoar, degrada-se a cada edição, ao ponto de ocupar as páginas policiais. Fora BBB’s, Fazendinhas, porcarias que chamam de entretenimento! Afinal, quem sentiria a falta destes substratos da cultura de massa, se todos fossem banidos da nossa televisão?

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