julho 18, 2012

Meu Mantra

Tranquila//Levo a vida tranquila//Não tenho medo do mundo/Não vou me preocupar//Tranquila//Levo a vida tranquila//Não tenho medo da morte/Não vou me preocupar//Que passe por mim a doença/Que passe por mim a pobreza/Que passe por mim a maldade, a mentira e a falta de crença//Que passe por mim olho grande/Que passe por mim a má sorte/Que passe por mim a inveja, a discórdia e a ignorância//Tranquila//Levo a vida tranquila//Que me passe/A doença que me passe/A pobreza que me passe/A maldade que me passe//Olho grande que me passe/A má sorte que me passe/A inveja que me passe/ A tristeza da guerra//Tranquila//Levo a vida tranquila//// Música/Letra: Tranquilo (Thalma de Freitas)

julho 17, 2012

Desfragmentando

Na agonia da espera, ela andou pelas ruas de raros transeuntes que se deleitavam assim. Pôde sentir o vento bater na copa das árvores, resfriando uma ou outra sombra. Ver no chão de cimento pequenas sementes alimentando passarinhos de vôos rasantes. Observava com predileção os resquícios do abandono nas casas e vãos, e os ambulantes sonolentos. Pequenas sementes alimentam pequenos pássaros. E quanto ao vôo das grandes asas? Para voar muito alto, bastavam pequenas sementes, concluíra. Antes do apagar das luzes, todos os pássaros deveriam voltar e pousar. Haveria silêncio. Ela o procuraria nos vazios noturnos. Pensamentos são feitos de éter e efeitos do desejo. Pareceu-lhe vívido o sonho e real, a miragem. Olhando-a, ele não a enxergava. Contentava-se com esta alegria que ele a emprestava, sem saber. Descobrira uma certeza, insólita, que os tornava mutuamente presos. As cortinas abririam o espetáculo e desnudariam primeiro a ele, depois a ela. Ao rodopiar pelo salão, todos descobririam a essência daquela valsa.

julho 09, 2012

AO MEU PARTIDO

Me deste a fraternidade para o que não conheço. Me acrescentaste a força de todos os que vivem. Me tornaste a dar a pátria como em um nascimento. Me deste a liberdade que não tem o solitário. Me ensinaste a acender a bondade, como o fogo. Me deste a retidão que necessita a árvore. Me ensinaste a ver a unidade e a diferença dos homens. Me mostraste como a dor de um ser morreu na vitória de todos. Me ensinaste a dormir nas camas duras de meus irmãos. Me fizeste construir sobre a realidade como sobre uma rocha. Me fizeste adversário do malvado e muro do frenético. Me fizeste ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria. Me fizeste indestrutível porque contigo não termino em mim mesmo. PABLO NERUDA

julho 06, 2012

Desfragmentação I

No ritmo daquela dança, rendera-se a repetir cada passo para vagar, ignorando o limite óbvio entre ambos. O tempo poderia definhar a sutileza de cada desventura e vicejar um caminho. Que fosse gentil o tempo que negava interromper a viagem, preferindo ponderar diante da recusa e deixar seguir. Que tamanho era o começo desconhecia. Nem dimensionara o peso do depois. O caos era bom, nele havia prazer. Alimentava a ele de buscas, e a ela de acúmulos. Buscas e acúmulos: o que mais poderiam usufruir do caos? Se ainda havia sede, e havia chuva, gotejasse. Ela cultivava fragmentos. Havia cacos que cortavam sem dor. Era só um vitral sem sangue nem mar que transbordava palavras. A palavra brincava de esconde-esconde com todos ao seu redor e depois, cansada, adormecia, mas não era inocente nem inócua, blefava. Transpassava sempre o vitral e se diluía em sensações. Ele se deleitava neste frágil descompasso. Sem remorso algum, ela suspirou pelo seu regresso. Um grande baile estava por vir. E com este, os aplausos.

julho 04, 2012

Desfragmentação

Um encontro se projetara com toda ousadia e pujança. Desfragmentar era uma espécie de abraço. Permaneceriam mutuamente abraçados, por um lapso. Não era estranha a ele aquela valsa nem as máscaras. Todo pássaro faz seu próprio ninho. Não se tratava de um conto de fadas, conquanto um carnaval. Não haveria segredos nem mistérios, apesar das máscaras. O gozo era permitido na sarcástica ditadura da fantasia. Ela penetrara o ambiente não sem acanhamento, temendo deparar-se subitamente nele. Do lado de fora, pela janela, via-se um céu avermelhado, quase sangrando a noite sem estrelas. Ela deveria emudecer, para que ele chegasse com todas as vozes e a tocasse. A corte soltava fogos, neste grande festival de intrigas que hipnotizava até aos mais distraídos. Não existe água tão profunda que um dia não seque. Desta verdade, ele sabia.