outubro 28, 2012

Quando Eu Me For

Quando eu me for/ (se eu me for)/ Vão até onde eu não fui/ Caminhos do ilimitado/ A face inédita do futuro/ Sem fronteiras/ Sem inimigo/ Encontrem/ Os meios/ Da liberdade/ E vão/ Tão longe/ Quanto possam/ Limiares de um outro mundo/ Sem oprimidos/ Sem classes.// E quando/ As novas veredas/ Do socialismo/ Forem percorridas/ Lembre-se de que/ Fui/ Até o impossível freio/ (Só que me faltou o tempo).// Autora: Loreta Valadares

setembro 29, 2012

Há 8 dias, mais tranquila ainda. No stress

Tranquila//Levo a vida tranquila//Não tenho medo do mundo/Não vou me preocupar//Tranquila//Levo a vida tranquila//Não tenho medo da morte/Não vou me preocupar//Que passe por mim a doença/Que passe por mim a pobreza/Que passe por mim a maldade, a mentira e a falta de crença//Que passe por mim olho grande/Que passe por mim a má sorte/Que passe por mim a inveja, a discórdia e a ignorância//Tranquila//Levo a vida tranquila//Que me passe/A doença que me passe/A pobreza que me passe/A maldade que me passe//Olho grande que me passe/A má sorte que me passe/A inveja que me passe/ A tristeza da guerra//Tranquila//Levo a vida tranquila//// Música/Letra: Tranquilo (Thalma de Freitas)

setembro 26, 2012

RAP NOVO, RAP DO POVO

Eu vi, eu vi/ O povo quer o novo/ O novo é do povo// Eu vi, eu vi/ Vou votar em Amauri// Catuaba, Mutirão, Mundo Novo Amauri é do povo/ Eu vivi, eu senti/ O povo quer o novo/ Jacobina é Amauri// Missão, Jacobina II e Bananeira/ Deixa de bobeira/ O povo é Amauri/ Macaqueira/ Grotinha, Mutirão Novo/ O povo quer o novo/ Quer mudança/ Jenipapo da Lambança// Segui, eu vi/ Todo canto é Amauri// Caixa D’Água, Peru, Serrinha/ Até minha vizinha/ Todo mundo é Amauri/ Novo Amanhecer, Caeira, Matriz// Todo mundo está feliz// Eu vou votar no povo/ Eu vou, eu vou/ Eu quero o novo/ O novo é Amauri// Junco, Batata, Paraíso/ Eu tenho juízo/ Eu voto em Amauri/ Eu vi, senti, vivi/ Jacobina é Amauri// Pedra Branca, Peru, Grotinha/ Jacobina IV, até a Ladeira é vermelha/ Todo mundo é Amauri// Catinga, Jenipapo, Itaitu/ Até tu? / Meu voto é de Amauri// Índios, Vila Feliz, Jacobina III/ É UM e TRÊS/ Agora é nossa vez// Líder, Estação, Felix Tomás/ É assim que se faz/ Ele é capaz// Eu vi, eu ri/ Toda gente, todo bairro é de Amauri// Inocoop, Alves, Cachoeira/ Não fique de bobeira/ O meu voto é de Amauri/ Sorri, sorri// Agora é 13, agora é Amauri///

setembro 18, 2012

Se tivesse decretado emergência...

Enquanto soltam fogos e sorriem, comemorando não sei o que, o povo que vive nas roças e nas periferias de Jacobina, silencia e chora. Chora a chuva que não veio e a falta de esperança. A doença que bate à porta sem recurso para tratá-la. A “guerra dos fogos” entre as facções políticas demonstra desprezo para com o povo, para com o sofrimento do povo. É um afronte. Fiquei com vergonha. Comércio parado, agricultura parada, saúde nem se fala. Só os indicadores econômicos, sociais e ambientais se movem, para baixo, caindo vertiginosamente. O povo humilde e pacífico de nossa cidade, o trabalhador, o pequeno comerciante está assustado. O que será de nós, se pergunta. Há os que se calam, temendo a reação dos que se locupletam com a vida boa e sem preocupação ofertada pelos novos coronéis. E muitos preferem não sair de casa, temendo a abordagem, às vezes grosseira, dos que têm sede de votos e de poder. Nas zonas rurais, vemos homens e mulheres, e crianças, apáticas, sem esperança. Os filhos jovens se foram, em busca de trabalho e dinheiro para sobreviver. Contamos com milhares de filhos a menos. Nunca houve tão intenso êxodo para fugir às conseqüências danosas de uma estiagem que parece não ter mais fim. Já se produziu os refugiados e se multiplicou os indigentes. Sou das que defendem uma política de convivência, não de combate à seca. Por volta do mês de maio, cerca de 230 municípios na Bahia, entravam em emergência. Jacobina não. Jacobina promovia uma grande “dança do índio”, a maior da história e do século, despreocupada com a situação difícil daquele momento e indiferente ao que estaria por vir no futuro. E o futuro chegou. Chegou rachando a terra e a pele da nossa gente, sem pena nem dó. A dança não fez chover. A maioria das famílias de baixa renda sobrevive de Bolsa Família. A criançada vai pra escola com transporte e merenda escolar, graças aos programas sociais. Mas não é o suficiente. Era preciso mais. Nenhuma barragem construída, nem açudes, nenhuma aguada, nada. Qual cadeia produtiva foi organizada? Nenhuma. Que incentivos foram oferecidos para o pequeno agricultor? Nenhum. Quantas fábricas e ou indústrias foram instaladas? Zero. O isolamento político, o neo-coronelismo dos últimos 16 anos só ocasionou tragédias. Uma atrás da outra. Tem gente que acha é pouco.

setembro 13, 2012

Amauri só cresce. Os urubólogos estão tristinhos.

Benedita tem razão: Amauri Teixeira é um jacobinense “íntegro, amoroso e companheiro” (veja vídeo no meu Facebook). Todos que dele se aproximam e com ele trabalham podem confirmar. Amauri é legal, em todos os sentidos. E é o único candidato em ascensão. Saiu do zero, a despeito dos que foram contra a sua candidatura, e só cresce. Poderá não dar conta, até antes das eleições, das inúmeras solicitações que chegam ao seu comitê. Sua agenda está abarrotada, enquanto os outros correm de um lado pra outro, à procura de apoio, até entre os apoiadores dele. Não se enganem os urubólogos de plantão que insistem em azedar a candidatura de Amauri, porque podem se surpreender. Nas urnas. O PT de Jacobina com Amauri foi “refundado”. Estava capenga, revigorou-se, ao se alinhar à história contemporânea dos governos trabalhistas de Lula/Dilma/Wagner. Já foi um bom recomeço. A Campanha 13 aqui está bem, obrigada. Continua de vento em polpa para tristeza e desânimo dos adversários (declarados e não-declarados). Eles estão sem graça. Tem até “dissidentes” (declarados e não-declarados). Já a campanha da candidata à reeleição estagnou. Não decola mais. Há quem aposte em Fênix, num renascer das cinzas. O fenômeno acontecerá no apagar das luzes, às vésperas da eleição, quando então, aquele considerado o maior estrategista político dos últimos tempos, irá redobrar os esforços para lavar a alma do povo, dizem, com um grande derrame de dinheiro, ajeitando a vida de muitos, em troca de favores e votos. Quer ganhar no grito, como os coronéis de Gabriela, bancando "bataclãs e Nassibs-bar" pela cidade! A campanha do ex-prefeito doutor é insípida, inodora e incolor. Completamente sem sal. Não falta dinheiro, dizem. Acho que faltam o entusiasmo, a alegria e a determinação da militância que um dia caminhou com ele e que ele perdeu. O tédio tomou conta. As bandeirolas vermelhinhas não tremulam mais quando ele passa. Ele passou. Não quer passar, mas passou. Ainda há os que ignoram este passado tão recente e insistem em idolatrá-lo. Esquecem que ele ainda é o prefeito das privatizações. Que expulsou da prefeitura os que o levaram até lá e trouxe de fora, a preço de ouro, um bocado de gente para ocupar seus cargos de confiança. Ele não abre mão de uma postura neoliberal, até porque nasceu em ninho tucano. Se eleito, pode não ser diplomado. Se diplomado, poderá não administrar até o fim. Foi o que programou em 2008, quando sofreu a insofismável derrota dos 245 votos. Ele tem sustentação política em Jacobina? Tem. O partido dos “intocáveis” que não desce do pedestal para prestar contas do que fez nos últimos quatro anos. O Rio Itapicuru-Mirim é o 2º mais poluído do Brasil. As serras de Jacobina foram devastadas. Os indicadores na área ambiental são desanimadores. Os que “passam a mão” na cabeça dele, perdoando-lhes as traições e engodos, como quem desculpa um menino travesso, “não passam” de oportunistas, e se igualam a ele. Trocou de partido, mas não trocou a estratégia: Jacobina é e será sempre um trampolim. Dois anos passam rápido e logo 2014 vai bater à nossa porta, sedento de votos. Quanto custa uma campanha a deputado? Pra lá de 10 milhões, caro leitor! Ninguém tira 10 milhões do próprio bolso...

setembro 10, 2012

Feriadão da Independência começou com Caminhada Cívica da Mulher

Nada de folga. O feriadão da Independência foi de trabalho para o candidato a prefeito de Jacobina, Amauri Teixeira e apoiadores. A militância feminina petista e comunista mobilizou em torno de 200 pessoas, homens e mulheres, e promoveu uma manifestação cívica e pacífica, ao participar do desfile oficial do Sete de Setembro, na Av. Orlando Oliveira Pires, recebendo aplausos do público presente. Sobre o asfalto quente, muitos relembraram os bons e saudosos tempos colegiais, quando eram estudantes do CEDBC, COMUJA e de outros estabelecimentos de ensino tradicionais de Jacobina. As mulheres que fizeram a diferença no Sete de Setembro estarão recepcionando, com grande entusiasmo também, no dia 11 de setembro (terça-feira), a Deputada Federal Benedita da Silva, mais uma eminente personalidade da política brasileira que pisará solo jacobinense, para participar do 1º grande comício dos candidatos Amauri e Zé Amin, que acontecerá na PRAÇA DA CONCÓRDIA, bairro da Serrinha. Imperdível. Benedita tem uma história de vida semelhante à de Lula que começou como torneiro mecânico e ela como empregada doméstica, conquistando no voto os altos escalões do poder. Benditos! Bendita, Benedita! Seja bem vinda!

Comício de Amauri no Junco reúne três fortes lideranças políticas

Cerca de duas mil pessoas prestigiaram o comício do candidato a prefeito de Jacobina, Amauri Teixeira, na localidade do Contorno Zé Gonçalves, na noite deste domingo (09/09), animado pelo trio de Denis - o palanque mais elétrico da região! Foi com grande entusiasmo e cordialidade que os moradores da comunidade tiveram oportunidade de demonstrar confiança e respeito ao candidato petista que reuniu, num só palanque, as três maiores lideranças políticas daquela região: a candidata Rose do Junco (PSL), e os candidatos Rone do Junco (PT) e Damásio (PCdoB), todos postulantes à Câmara de Vereadores. Com um discurso contundente, Amauri Teixeira enfatizou, por um lado, as conquistas proporcionadas pelos governos federal e estadual no interior da Bahia, como a implantação dos programas Luz e Água para Todos, entre outros; e por outro lado, destacou a falta de serviços públicos essenciais como os de saúde, assistência social, educação e programas de geração de trabalho e renda. Com o convite animado do popular Pirulito da Bahia subiram no palanque elétrico o candidato a vice Zé Amin (PCdoB), coordenadores da Campanha 13, candidatos a vereador e vereadora, Dr. Eduardo Menezes (ex-gerente da EMBASA/Jacobina), empresário Marcos Marcelino e apoiadores. Uma grande noite.

setembro 08, 2012

Amauri: É Hora de Libertar Jacobina

“O Brasil comemorou, neste Sete de Setembro, mais um Aniversário da Independência. Desde o período da Colonização, o sentimento de liberdade é algo bastante forte e marcante na sociedade brasileira. Os brasileiros nunca aceitaram e continuam, até hoje, não aceitando nenhum tipo de autoritarismo ou submissão, pois sabem que tudo isto contraria o sonho de Cidadania Plena e de Nação verdadeiramente justa e democrática. Infelizmente, 190 anos depois, os ventos de liberdade, democracia e transparência com a coisa pública ainda não chegaram a muitos locais deste nosso imenso País. É o caso da nossa querida Jacobina, onde predomina uma administração municipal arcaica, prepotente, sem transparência e, acima de tudo, perseguidora. Por isto, neste Sete de Setembro de 2012, libertar Jacobina do jugo de uma política arcaica, que vem servindo aos interesses de poucos, e tantos males tem causado à sua gente, ainda é o grande desafio dos jacobinenses nos dias atuais. VIVA O BRASIL! VIVA JACOBINA!” (Texto: Amauri Teixeira – Candidato a Prefeito de Jacobina / Distribuído no 7 de Setembro)

setembro 03, 2012

Compromisso e seriedade marcam inauguração do Comitê de Amauri

Não foi à moda oba-oba nem à base do cabresto, mas em grande estilo, apoiado pela militância jovem, consciente e responsável e por eminentes políticos da Bahia e do Brasil que o candidato a prefeito de Jacobina, Amauri Teixeira inaugurou o Comitê Central 13, neste sábado, 1º de setembro, diante de um público estimado em mais de seis mil pessoas. O Município que completou 132 anos de Emancipação, em 2012, viveu uma noite histórica, já que, pela primeira vez, um Senador da República, Walter Pinheiro pisou solo jacobinense, com a missão de convidar a população a participar ativamente do processo eleitoral em curso e confirmar, nas urnas, a vitória do amigo candidato Amauri Teixeira, ambos pertencentes aos melhores quadros do Partido dos Trabalhadores (PT). O Comitê de Amauri e Zé Amin funciona à Rua Francisco Rocha Pires, em frente ao SAC, em horário comercial, e foi o terceiro a ser inaugurado entre os dos concorrentes à eleição majoritária. Outra que já fez história na política nacional, Deputada Federal Benedita da Silva deverá pisar a terra de Jacó e Bina, no dia 11 de setembro para saldar o povo e o anfitrião Amauri Teixeira.// Os aliados políticos e representantes da Assembléia Legislativa, deputados Yulo Oiticica e Bira Coroa, durante o comício, colocaram seus mandatos à disposição dos jacobinenses para garantir a efetivação das políticas públicas a ser implantadas, a partir de 2013, com a eleição do candidato petista. Por sua vez, os secretários do Governo da Bahia Jorge Solla (Saúde); Cícero Monteiro (Desenvolvimento Urbano) e Robinson Almeida (Comunicação) selaram o compromisso de ajudar na implantação dos projetos e programas do governo Estadual e Federal no município e região. Subiram ao “palanque elétrico” os familiares, parentes e amigos de infância de Amauri Teixeira, para prestigiá-lo e parabenizá-lo pela coragem e determinação ao voltar à sua Terra Natal, com a finalidade de governar Jacobina, dando continuidade ao trabalho que começou como Deputado Federal. “Nós não vamos desistir, vamos até o fim”, ressaltou Teixeira, emocionado. Caravanas vindas dos distritos e povoados, a exemplo do Junco, Paraíso, Lages do Batata, Cachoeira Grande, Itaitu, Jenipapo, Caatinga do Moura, entre outros, também abrilhantaram a festa de inauguração, reafirmando a opção de consolidar o nome do próximo prefeito. A coligação reúne um número recorde de partidos e de candidatos a vereador. São nove os partidos, alinhados em duas coligações: “Juntos para Mudar Jacobina” (PT, PTB, PRTB, PSL, PPL e PSD) e “Avança Jacobina” (PCdoB, PSB e PRB). Concorrerão à Câmara Municipal 49 candidatos, sendo 15 mulheres.// A Casa-Comitê de Amauri e do timaço de Lula e Dilma pertence à família de um dos políticos jacobinenses de maior expressividade, falecido este ano, Dr. Marcos Jacobina, o que denota uma homenagem de todos e todas da coligação a um dos mais respeitados e populares médicos e políticos desta geração. A festa de inauguração começou com uma grande mobilização no Sambódromo da Praça da Matriz, enquanto o Palanque Elétrico já tocava as músicas-tema da “Campanha 13”, em frente ao comitê. Do centro antigo, o arrastão percorreu ruas e avenidas, sendo puxado por dezenas de motociclistas com o “buzinaço da vitória do povo” e por centenas de pedestres, que promoveram animada “bandeirada” dos partidos coligados e de candidatos à Câmara Municipal. A manifestação popular transformou a avenida num extenso “tapete vivo” com as cores vermelha e branca, pouco antes do comício. A dupla de apresentadores revelação do rádio jacobinense Pirulito & Julinho, cumpriu o que prometeu: transformar a inauguração num evento cheio de emoção e alegria, com qualidade e profissionalismo.

setembro 01, 2012

Vote Limpo! A Regra é Clara!

O QUE É A FICHA LIMPA (LEI COMPLEMENTAR Nº. 135/2010):É uma legislação brasileira originada de um projeto de lei de iniciativa popular que reuniu cerca de 1,3 MILHÕES de assinaturas. A lei torna inelegível por oito anos um candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado (com mais de um juiz), mesmo que ainda exista a possibilidade de recursos. O Projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 5 de maio de 2010 e também foi aprovado no Senado Federal no dia 19 de maio de 2010 por votação unânime. Foi sancionado pelo Presidente da República, transformando-se na Lei Complementar nº 135, de 4 de junho de 2010. Esta lei proíbe que políticos condenados em decisões colegiadas de segunda instância possam se candidatar. Em fevereiro de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) CONSIDEROU A LEI CONSTITUCIONAL E VÁLIDA PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES que forem realizadas no Brasil, e isso representou uma vitória para a posição defendida pelo Tribunal Superior Eleitoral nas eleições de 2010. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficha_Limpa)// DEPOIS NÃO VAI DIZER QUE "NÃO SABIA"...

agosto 15, 2012

Um Novo Fragmento

Sentira saudade de si e das coisas simples. As flores podiam ser apalpadas, mas nada perfumavam em torno delas. Poucas emoções a comoviam mais que a poesia. O peso daquele sonho já se fazia sentir no cansaço. Deveria entregar-se à aventura de respirar profundamente e recriá-lo. A madrugada chegava trazendo sua fria neblina, mas ela o esperava desde a véspera, aquecendo-se com a vastidão das lembranças. Lembrar não era bem recordar, mas viver de forma ininterrupta o sonho. Quantas vezes bateria à porta do imaginário e recorreria à virtualidade daqueles dias, desconsiderava. Entediava-lhe a possibilidade absurda dele suspeitar. Por entre carícias, ia cingindo seu olhar no dele, numa busca incansável de todas as tentações. Havia arte na palma da mão em sombra, ele criara para que pudessem admirá-lo e perpetuá-lo. Um rei jamais perderá seu trono por negligência ou puerilidade, mas se assim o desejar nada restará aos súditos senão a recusa. Dobrar-se-ia, num gesto nobre, somente para dar a ela as boas vindas?

agosto 08, 2012

Candidata à reeleição frustra audiência e eleitores

Distinção importante entre o significado de duas palavras parecidas: DEBATE e EMBATE. São sinônimas da primeira palavra: “discussão, contestação, altercação” e da segunda palavra, “pancada, oposição, resistência”. DEBATER é discutir, disputar, contestar. EMBATER é colidir, esbarrar. Vou ter a ousadia de discorrer sobre a impressão que me causou a “não presença” da candidata à reeleição ao DEBATE proposto pela Jacobina FM, nesta terça-feira (07/08), a partir das considerações sobre as diferenças gramaticais entre duas palavras graficamente semelhantes. Penso que os “embates” ocorreram de maneira mais evidente em cada uma das entrevistas dos três candidatos, nos dias 21 e 28/07 e 04/08, respectivamente. O DEBATE proposto pela emissora recebeu dos candidatos naquelas ocasiões, não só a aprovação da iniciativa, como também a aceitação do convite para eles participarem do evento programado. Para alguns observadores atentos não foi surpresa a “não presença” da candidata à reeleição, já que (relembraram) o mesmo comportamento ocorrera em 2008. Para muitos, no entanto, o sentimento foi de grande frustração, sobretudo para os ouvintes da respeitada e histórica Jacobina FM, mas especialmente para os eleitores jacobinenses. É preciso entender que o eleitorado local está exercendo o seu direito inalienável de analisar cada um dos candidatos, no atual contexto político, antes de premeditar a escolha. Ainda não foi “batido o martelo” quanto à preferência de voto, a despeito de se espalhar pela cidade, o “mercado negro” da compra de votos que, supõe-se, vem sendo movimentado por determinado grupo político-econômico. Mas, o eleitor está mais atento, mais informado, mais consciente e, espera-se, não cairá nas armadilhas deste famigerado “leilão de consciências”. O eleitor quer “errar menos” ou “acertar mais” na escolha de seus candidatos, porque sabe que da sua escolha resultará o avanço, a estagnação ou o retrocesso do seu município. O eleitor tem o direito de conhecer o mais completamente possível os homens e mulheres que se candidatam aos cargos eletivos: a biografia, a formação, o temperamento, assim como seus projetos e ideologia. O passado de cada um. As contradições, os erros, os acertos. Aliás, é dessa análise, é deste “pensar” que será construído o voto consciente, este que “não tem preço”. Na era da Tecnologia ao alcance de todos e todas não se pode simplesmente desprezar a oportunidade de estar em contato, dialogando com o seu eleitor. Dada a importância do rádio na difusão de ideias e no processo de democratização da informação é inconcebível que um agente público (ou que almeje se tornar um agente público) possa prescindir de uma ferramenta de tamanho alcance e influência como o é o rádio para nossa cultura local. Os “embates” ocorreram com as apresentações, propostas e respostas que foram ao ar na íntegra (e ao vivo). Ao que me parece, não houve de nenhum dos entrevistados, quaisquer declaração que resultasse em insulto, calúnia, desrespeito, difamação ou ofensa em relação aos outros. Houve um “embate político” e não pessoal. Sentindo-se “caluniados, difamados, ofendidos” com declarações de seus concorrentes nas entrevistas individuais teriam os demais o “direito de resposta”? Quando? Em qual espaço? Penso que, se o fato tivesse havido, a melhor oportunidade que teriam para se “defender” de supostas acusações seria justamente no DEBATE, espaço reservado por lei para que candidatos, em pé de igualdade, possam expor seus sentimentos e desafetos, com direito a réplica e tréplica. Fugir ao DEBATE POLÍTICO não é uma atitude dos “mais fortes” e esta “tática” já está com seus dias contados!

agosto 02, 2012

O JULGAMENTO DA HISTÓRIA

"No verdadeiro julgamento da história, pouco importa o que cada personagem pensa de si; o fator relevante é a posição que ocupa no conflito de interesses que desloca a fronteira do possível na vida de um povo e de uma época. Objetivamente, no Brasil, nos últimos dez anos, essa fronteira se mexeu - não sem contradições, tampouco à margem de tropeços e fortes resistências; mas se moveu e o fez em direção a um horizonte em que a questão social passou a ser um divisor relevante da equação política. O saldo deslocou a relação de forças: o Brasil é hoje o país menos desigual de sua história, ainda que conserve um legado de barbárie em seu metabolismo. Não se trata de uma contabilidade exclamativa; são estatísticas, não apenas as do IBGE; as urnas referendaram esse trânsito inconcluso; primeiro, com uma aposta, em 2002; depois com uma repactuação assertiva, em 2006 e 2010. O julgamento que se estende de hoje até a 1ª quinzena de setembro no STF pretende, a rigor, sustentar que esse percurso cuja capilaridade contagiou a estrutura, o discernimento, a auto-estima e o imaginário da sociedade, resumiu-se a uma fraude. Um 'mensalão' de R$ 30 mil per capita, pago à base aliada, teria sido a alavanca dos enfrentamentos que moveram a história a partir de 2003. O fato de que pretendam reduzir a potência desse período a um truque judicialmente enquadrável, ademais de externar algum desespero, diz quase tudo sobre a disposição passada, e os planos futuros, dos interesses que por 45 dias tentarão reduzir a travessia de uma década a um complô contra o interesse público". (WWW.cartamaior.com.br)

julho 18, 2012

Meu Mantra

Tranquila//Levo a vida tranquila//Não tenho medo do mundo/Não vou me preocupar//Tranquila//Levo a vida tranquila//Não tenho medo da morte/Não vou me preocupar//Que passe por mim a doença/Que passe por mim a pobreza/Que passe por mim a maldade, a mentira e a falta de crença//Que passe por mim olho grande/Que passe por mim a má sorte/Que passe por mim a inveja, a discórdia e a ignorância//Tranquila//Levo a vida tranquila//Que me passe/A doença que me passe/A pobreza que me passe/A maldade que me passe//Olho grande que me passe/A má sorte que me passe/A inveja que me passe/ A tristeza da guerra//Tranquila//Levo a vida tranquila//// Música/Letra: Tranquilo (Thalma de Freitas)

julho 17, 2012

Desfragmentando

Na agonia da espera, ela andou pelas ruas de raros transeuntes que se deleitavam assim. Pôde sentir o vento bater na copa das árvores, resfriando uma ou outra sombra. Ver no chão de cimento pequenas sementes alimentando passarinhos de vôos rasantes. Observava com predileção os resquícios do abandono nas casas e vãos, e os ambulantes sonolentos. Pequenas sementes alimentam pequenos pássaros. E quanto ao vôo das grandes asas? Para voar muito alto, bastavam pequenas sementes, concluíra. Antes do apagar das luzes, todos os pássaros deveriam voltar e pousar. Haveria silêncio. Ela o procuraria nos vazios noturnos. Pensamentos são feitos de éter e efeitos do desejo. Pareceu-lhe vívido o sonho e real, a miragem. Olhando-a, ele não a enxergava. Contentava-se com esta alegria que ele a emprestava, sem saber. Descobrira uma certeza, insólita, que os tornava mutuamente presos. As cortinas abririam o espetáculo e desnudariam primeiro a ele, depois a ela. Ao rodopiar pelo salão, todos descobririam a essência daquela valsa.

julho 09, 2012

AO MEU PARTIDO

Me deste a fraternidade para o que não conheço. Me acrescentaste a força de todos os que vivem. Me tornaste a dar a pátria como em um nascimento. Me deste a liberdade que não tem o solitário. Me ensinaste a acender a bondade, como o fogo. Me deste a retidão que necessita a árvore. Me ensinaste a ver a unidade e a diferença dos homens. Me mostraste como a dor de um ser morreu na vitória de todos. Me ensinaste a dormir nas camas duras de meus irmãos. Me fizeste construir sobre a realidade como sobre uma rocha. Me fizeste adversário do malvado e muro do frenético. Me fizeste ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria. Me fizeste indestrutível porque contigo não termino em mim mesmo. PABLO NERUDA

julho 06, 2012

Desfragmentação I

No ritmo daquela dança, rendera-se a repetir cada passo para vagar, ignorando o limite óbvio entre ambos. O tempo poderia definhar a sutileza de cada desventura e vicejar um caminho. Que fosse gentil o tempo que negava interromper a viagem, preferindo ponderar diante da recusa e deixar seguir. Que tamanho era o começo desconhecia. Nem dimensionara o peso do depois. O caos era bom, nele havia prazer. Alimentava a ele de buscas, e a ela de acúmulos. Buscas e acúmulos: o que mais poderiam usufruir do caos? Se ainda havia sede, e havia chuva, gotejasse. Ela cultivava fragmentos. Havia cacos que cortavam sem dor. Era só um vitral sem sangue nem mar que transbordava palavras. A palavra brincava de esconde-esconde com todos ao seu redor e depois, cansada, adormecia, mas não era inocente nem inócua, blefava. Transpassava sempre o vitral e se diluía em sensações. Ele se deleitava neste frágil descompasso. Sem remorso algum, ela suspirou pelo seu regresso. Um grande baile estava por vir. E com este, os aplausos.

julho 04, 2012

Desfragmentação

Um encontro se projetara com toda ousadia e pujança. Desfragmentar era uma espécie de abraço. Permaneceriam mutuamente abraçados, por um lapso. Não era estranha a ele aquela valsa nem as máscaras. Todo pássaro faz seu próprio ninho. Não se tratava de um conto de fadas, conquanto um carnaval. Não haveria segredos nem mistérios, apesar das máscaras. O gozo era permitido na sarcástica ditadura da fantasia. Ela penetrara o ambiente não sem acanhamento, temendo deparar-se subitamente nele. Do lado de fora, pela janela, via-se um céu avermelhado, quase sangrando a noite sem estrelas. Ela deveria emudecer, para que ele chegasse com todas as vozes e a tocasse. A corte soltava fogos, neste grande festival de intrigas que hipnotizava até aos mais distraídos. Não existe água tão profunda que um dia não seque. Desta verdade, ele sabia.

junho 10, 2012

Fragmentar ou Esquecer?

O vento morno do entardecer começava a soprar pelas frestas da casa. Despedaçado em pequenos fragmentos de luz, o sol era vencido. O mormaço ia quebrando-se. Ouvia-se um cântico de amor, desejo e dor. Um lamento tomou o silêncio nos braços. De lamento nos braços, ela o embalou. A poeira teimava em se assentar no chão, já cansada de tanto flutuar. Ficara satisfeita em sentir o cheiro de chuva caída na terra estorricada de tanto calor. A terra ardia e respirava, ardia e respirava. Era possível ver a terra rachando de tanto sorrir. Mas, ela lembrou daquele sorriso que estalara seu coração da beleza que era. Chorou como a chuva que chora sobre a terra seca. De lágrimas quentes derramava do rosto a poeira do dia. Dia que queria se derreter e sumir. Esvair-se e gotejar. A secura de tudo recebera as lágrimas que o tempo procurou represar, e não conseguiu. Ela podia gotejar cada lembrança inventada. Como era densa e impalpável, aquela doce ilusão evaporava-se tanto quanto surgia. Decidira ela conjugar o verso fragmentar. O inverso era esquecer. E ela não o esquecia.

junho 07, 2012

No princípio eram fragmentos

Mas o que era o amor? Ousara amar, sem saber. Havia ele lhe ensinado a música. A música que subjaz na poesia, que a supera e, liberta, vai ao coração. Mostrara-lhe o mar. Não é apenas azul, ressaltara. Disse-lhe com voz ondulada ser o mar expressão de vida. Vida imersa. Que emerge. Um amor que pensara ela podia salvar vidas. E vivo livrá-la do naufrágio. Proibido, não sucumbiu à solidão. Sozinha ela seguia nos dias e noites e madrugadas que surgiram inconsistentes, em cores flutuantes. Perdurou nos dias quentes, nas tardes frias se perdeu. Cega, via-lhe em sonho. Nos outros amores. Quando assim não o via, procurava-o mesmo em nenhum lugar, apenas procurava. E o encontrava. Sem desejar. Por mais distante que estivesse, por mais irreal que fosse. Por mais que não estivesse, não acontecesse, era. Desta estória, podia ela contar, mas nada era contínuo. Ela fracionava em sustos de lembranças, inseguras, imprecisas, suspeitas. Retalhos de imagens.

maio 14, 2012

Mais um Fragmento

Ele poderia cruzar o seu caminho, de forma inesperada, mas não a reconheceria. Era dado às longas e excêntricas viagens. Lembrar, ele não lembrava. Mas, podia estar em qualquer lugar e não estar em lugar algum, tudo ao mesmo tempo. Era preciso vigiá-lo e estar tentada a não perdê-lo, mas a perder-se de vista. Logo ali, estava o mar, o mais belo de todos, com seu perfume salgado e suas rendas. Ele estivera ali, sentia-lhe a ausência, já muito distante. Insistira, embora cansada, num rápido olhar, vertical e horizontalmente. O que teria lhe chamado mais a atenção, indagara. O fluxo inquietante dos carros a disputar o asfalto com os transeuntes? A teimosia ambulante engolindo a calçada e expulsando os vazios? Os anônimos apressados e atravessados por todos os cheiros? Tanto quanto ele, ela tropeçara nos restos de coisas e líquidos no chão. A bem dizer, por um lapso, eles se cruzaram no caminho, mas em tempos distintos. Ele galopava, sempre de volta. Ela precisava ir, e ia.

Fragmentos IV

Conquistara a mais pura independência: a do pensamento. Convinha sacudir todo o susto na direção do vício. Nada temia nada menosprezava. O pôr-do-sol se punha, restaurando a delicada tarefa de mudar as cores de tudo. As sombras surgiam, por mais transparentes que fossem dando contornos ao que via pela frente. Ela não acalentava culpa. Sofismava, enternecida, diante do óbvio. Grande era por demais a janela, ilimitados os seus domínios. Respirara fundo. Comia as próprias unhas com fome de entendimento e se entediava. Nem tudo tem explicação, concluíra. Palpitava o coração, dedilhavam os dedos. Havia uma dose de redundância inestimável, ao repetir o nome dele. Tantas vezes que, desconfiava, ele poderia ouvir. Um silêncio que fala só é possível na sedução. Desistira de seduzi-lo. Uma guerra perdida lamentou, mas sem tristeza. Há canções incuráveis e repertórios ocultos. A esperança foi derrotada. Era mais difícil ficar sozinhos que livres. Ironicamente.

maio 07, 2012

Frangmentos 3

Cultivara a lembrança e pressentia a doce tormenta acabar. Chegara tão perto dele, tocando-lhe o rosto de vidro que o cheiro imaginava, a voz inventava, o pensamento fingia. Reconhecia o delírio, limitando-se a deixá-lo ficar. Quem saberia? Quem mediria o tamanho da secreta obsessão? Um luxo poder ver sem ser visto. Sofisticação emocional. Uma vida dentro da vida. No poste, a lâmpada iluminava a noite com um tom desbotado. Tonta de sono peneirava cada palavra. Esfarinhava em versos o silencioso redemoinho de ideias a torturar o corpo. O corpo era capaz de transpirar tudo, pulsar a cada sentido, sentir. Um vento suave e necessário entrava empurrando janelas e portas que se debatiam timidamente. De que serve o fim, ela agora se interrogava. O fim é suportável, previra. Para o fim não é preciso motivo. O fim vem. Chegando, se espalha sobre a cama, absorve-se num sonho e desperta.

abril 29, 2012

Fragmentos II

Era só mais uma caricatura da vida real. Ela queria dizer mais, risonha, embora chorasse o desagrado. Havia intrínseca a máscara do tempo. Dois corpos das dunas rolavam, entregavam-se ao lúdico calor da areia, sem que isso bastasse. Ver, ao longe, constituía menos que vertigem ou labor do pensamento, sobretudo, um simples deleite. Quisera o reencontro, a utopia, a emoção, e não o sentimento. À exaustão, entregara-se, surpresa de ser. Continha-se, no entanto, avançava, lentamente. Quantas vezes ela aventurava, não cria, não sabia, não esperava. Perplexidade. Diante do indiscreto sinal do sol, que a tudo clareava de cores, a amplidão se calou, escapuliu, emergiu, assim, sem nem pedir licença. Calcular, não aprendera. Soletrar, ela soletrava. Fragmentava também. Bem assim era aquele dia, soletrado e feliz. Agradecera.

abril 21, 2012

Fragmentos

Ela sabia que nada poderia unir a ambos, a não ser um fio invisível, transpassando seus corpos, feito de matéria e éter, óbvio somente aos que vêem o que os outros não vêem. Que pecado teria eles cometido, diante do altar da reflexão e da loucura, a não ser aquele da pura sensatez? O maior infortúnio era a completa falta de um chão, um tapume no qual descansasse os pés. Mais ainda, que pudesse ela se aperceber do exato instante em que o fio havia vicejado e surgido, desconfiado e incerto, por entre os dedos da mão, e logo, pelos poros e veias, direto ao coração. “No fundo do coração” fica aonde? Ela, fora, estava. Presente. Incisiva. Sobre a nuca dele. Seguindo-o, passo a passo, cada olhar e sorriso. O que mais poderiam sentir? Faltava-lhes! Saudade.

abril 08, 2012

CARTA DE JACOBINA

Diante das inúmeras dificuldades vividas em nossa amada Jacobina, que é um dos centros urbanos mais importantes da região do Piemonte da Diamantina, a mais preocupante de todas e a que merece maior atenção por que resulta em prejuízos irreversíveis à nossa população, certamente é a falta de investimentos públicos na área da saúde. Seja pela inexistência de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), pela falta de médicos e de resolutividade em nossos hospitais; seja pelo abandono aos demais programas de saúde pública, como o de Combate à Dengue, Programa de Saúde da Família (PSF), Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), entre outros. Quantas famílias enlutadas ainda serão necessárias, para que possamos, nós, marcharmos unidos em busca de humanização e dignidade em nossa saúde pública? Quantas vidas já foram e ainda serão ceifadas devido à inércia e descaso das autoridades competentes? Temos assistido a perda precoce de dezenas de cidadãos e cidadãs, de todos os segmentos sociais e de todas as idades – a falta de atendimento não discrimina a ninguém! – e entendemos que parte dessas mortes poderia ser evitada caso as condições não fossem tão precárias. Vivemos hoje sob forte tensão, a espera que o infortúnio bata à nossa porta e não tenhamos a quem recorrer. A despeito de estarmos mergulhados numa profunda crise na saúde, os governos se calam e pouco fazem para reverter esta situação que se alonga em nossa história. Jacobina está passando por um surto de dengue que avassala a vida dos trabalhadores e trabalhadoras da nossa cidade. O município vem despontando também, no Estado da Bahia, com um número aterrorizante de casos confirmados do tipo mais grave da doença, e já houve pelo menos duas vítimas fatais. O Movimento Jacobina Agoniza vem denunciando a gravidade deste problema e alertando as autoridades competentes. Fato é que não foram cumpridas as exigências legais do Ministério da Saúde, ainda em 2011, tendo reduzida drasticamente a série dos ciclos obrigatórios de visitas das campanhas de combate e prevenção à dengue. A população sozinha não pode arcar com o ônus do descontrole. Sem o trabalho heróico dos agentes comunitários de saúde, ficamos com nossos pés e mãos atados! O Ato Cristão em Defesa da Vida tem dia e hora marcados, mas deverá se estender além do tempo e do espaço, e se dar por satisfeito, ao percebermos uma mudança significativa, tanto no comportamento quanto nas ações, em resposta aos nossos pedidos e justas reclamações. Convidamos e apelamos aos homens e mulheres da nossa sociedade a marcharem junto conosco, com esperança e fé, nesta luta que pertence a todos e todas. Estamos respaldados não apenas na solidariedade e união de nossos compatriotas. Para que a fraternidade social seja verdadeira é preciso saúde pública de qualidade. E a Campanha da Fraternidade 2012 surge como reforçadora dos anseios de toda a população jacobinense. Chamando-nos a refletir e a reivindicar melhorias no sistema público de saúde em todos os níveis, a campanha trouxe à tona o tema “Fraternidade e Saúde Pública”, com o sugestivo lema “Que a saúde se difunda sobre a Terra”. O pensamento cristão se coaduna com o pensamento político. Queremos o enfrentamento das desigualdades sociais, pelos mais pobres, e a inclusão de todos e todas aos serviços básicos, com responsabilização dos gestores públicos nestas ações de saúde, em todos os níveis: municipal, estadual e federal. Saúde Pública e de Qualidade Já! Convocamos toda a população de Jacobina e região, a mais uma vez nos unirmos e cobrarmos das autoridades competentes os direitos que nos foram garantidos na Constituição Federal, pois não podemos nos calar ou nos omitir diante de tanto descaso e negligência. Estamos endereçando a CARTA DE JACOBINA a todos os que têm “olhos para ver” e “ouvidos para ouvir”, sobretudo, aos que têm um coração aberto aos sentimentos de união e solidariedade a uma causa justa, democrática e cristã. Por Cidinha do Ó, em 06/04/2012 Fonte: Projeto Ato Cristão em Defesa da Vida do Movimento Jacobina Agoniza

março 07, 2012

2012: 80 anos do Voto Feminino

Por Schuma Schumaher* - A conquista do voto feminino resultou de um processo iniciado antes mesmo da proclamação da República. Embora a Constituição de 1891 vetasse o direito de voto aos analfabetos, mendigos, soldados e religiosos, sem mencionar as mulheres, elas ainda tiveram que lutar por mais de 40 anos para conquistar esse direito. Dois episódios são ilustrativos das resistências usadas pelas mulheres. O primeiro deles aconteceu em 1885 quando a gaúcha Isabel de Sousa Matos, uma cirurgiã dentista requereu o alistamento eleitoral. Seu pedido estava amparado pela Lei Saraiva que garantia o direito de voto aos portadores de títulos científicos. Isabel conseguiu ganhar a demanda judicial em segunda instância. Com o advento da República e a convocação de eleições para a Assembléia Constituinte, Isabel, que na época estava morando no Rio de Janeiro, procurou a Comissão de Alistamento Eleitoral para fazer valer a sua conquista. Diante do fato inusitado de uma mulher pleitear o direito de se alistar, a comissão solicitou um parecer ao Ministro do Interior que fez uma negativa contundente: julgou absolutamente improcedente a reivindicação. A luta prosseguiu. E foi também de outra Isabel a segunda tentativa. No caso, da baiana Isabel Dillon, primeira a apresentar-se como candidata a deputada na Constituinte de 1891. Ela argumentou que a Lei Eleitoral de 1890 não excluía as mulheres, uma vez que a mesma assegurava o direito de voto aos maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever, sem referência explícita ao sexo do eleitor. Ela tonou publica sua candidatura e teve como plataforma eleitoral defender a opção religiosa, a ampla liberdade de pensamento e a aprovação de leis que protegessem a criança, a mulher e o operariado nascente. Não conseguiu sequer se alistar para votar. Após muitas tentativas isoladas, surgem os primeiros grupos organizados de mulheres como o Partido Republicano Feminino, fundado em 1910 por Leolinda Daltro e outras feministas cariocas. Essa estratégia provocou debates, através de manifestações públicas que criticavam a “cidadania incompleta” das mulheres, gerando polêmicas e reações negativas por parte da imprensa. Contudo, foi a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, criada em 1922, e espalhada por diversos Estados brasileiros, a grande responsável pela campanha nacional em favor do voto feminino. Bertha Lutz, Almerinda Gama, Carmen Portinho, Maria Luisa Bittencourt, Josefina Álvares de Azevedo, Jerônima Mesquita, Chiquinha Gonzaga, Natércia da Silveira e tantas outras feministas sufragistas constataram na prática, com indignação, que o engajamento nas lutas políticas e suas conquistas no campo da educação eram insuficientes para que os poderes constituídos reconhecessem seus direitos enquanto cidadãs. Lideradas por Bertha Lutz iniciaram um campanha aguerrida em várias frentes e cidades, usando a imprensa, as galerias da Câmara Federal, seminários, debates, manifestações artísticas e até panfletagem aérea, para sensibilizar os congressistas e ganhar a simpatia da população para a causa que defendiam. E conseguiram! Demonstrando grande habilidade política e capacidade de articular alianças, foram aos poucos, conseguindo adesões em vários estados e espaços. É assim que, em 1927, a Lei Eleitoral do Rio Grande do Norte concede o direito de voto às mulheres norte-rio-grandenses, possibilitando que Celina Guimarães Viana e Julia Alves Barbosa se tornassem as primeiras eleitoras do Brasil e Alzira Soriano a primeira prefeita da América Latina, nas eleições de 1928. Um enorme passo! Alguns anos depois, em 1931, a FBPF promoveu no Rio de Janeiro o II Congresso Internacional Feminista para discutir os rumos do movimento. O discurso de abertura coube a prestigiada escritora Júlia Lopes de Almeida. As conclusões do Congresso foram encaminhadas ao Presidente Vargas que se comprometeu a empenhar-se pela concessão do voto feminino. Apesar de Bertha Lutz fazer parte da Comissão encarregada de elaborar o novo Código Eleitoral Brasileiro (1932) teve que enfrentar muitas polêmicas entre os integrantes do grupo, pois os mesmos tinham posições divididas sobre o direito de voto às mulheres. Finalmente, depois de muita pressão, em fevereiro de 1932, o presidente Getúlio Vargas, assina o Decreto nº 21.076, concedendo as mulheres o direito de votar e serem votadas. Finalmente Vitória! Com a criação do Código Eleitoral de 1932 a atenção das filiadas da FEBP voltou-se para enfrentar outro desafio: promover a candidatura das feministas para a Assembléia Nacional Constituinte de 1933. Entre os 254 votantes, contabilizando os eleitos e os representantes classistas, duas vozes eram femininas: Carlota Pereira de Queiroz, médica eleita por São Paulo e a primeira deputada federal do Brasil; e a advogada alagoana Almerinda Farias Gama, uma das primeiras mulheres negras na política brasileira, na época representando o Sindicato das Datilógrafas e Taquigrafas do Distrito Federal, por intermédio de uma estratégia bem sucedida da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF). Nas eleições gerais de 1934, a FBPF retornou ao cenário político patrocinando uma acirrada campanha nacional para a eleição de mulheres. As propostas das feministas foram resumidas num documento composto por treze princípios, com questões referentes à maternidade, melhores salários e licença-remunerada, até a discussão do acesso aos cargos públicos. Pelo Brasil nove mulheres foram eleitas deputadas estaduais: Quintina Ribeiro (Sergipe); Lili Lages (Alagoas); Maria do Céu Fernandes (Rio Grande do Norte); Maria Luisa Bittencourt (Bahia); Maria Teresa Nogueira e Maria Teresa Camargo (São Paulo); Rosa Castro e Zuleide Bogéa (Maranhão) e Antonieta de Barros por Santa Catarina, destacando-se, ainda, como a primeira deputada negra do Brasil. Infelizmente este período de exercício da democracia representativa durou pouco. Com o Golpe de Estado, em 1937, Getúlio passou a comandar o país usando a batuta de um regime autoritário. Os parlamentos foram fechados e as ações dos movimentos sociais, inclusive os das mulheres, foram suprimidas. Nos anos de redemocratização pós 1945, um novo cenário político brasileiro vai se configurando e, diante da conquista do voto para as mulheres, a FBPF vai perdendo seu potencial mobilizador. Nesse período novas organizações de mulheres vão surgir, e na maioria dos casos ligadas aos partidos políticos. Com o golpe de 1964, mais uma vez os movimentos sociais são alvos de perseguição e repressão. Com a decretação, pela ONU, em 1975, do Ano Internacional da Mulher e a retomada do regime democrático o feminismo ressurge forte e organizado. Contudo, apesar da diversidade e do aumento da participação política das mulheres na sociedade civil, inseridas nos mais diversos campos dos movimentos sociais – direitos das mulheres, combate ao racismo, etnocentrismo, defesa dos direitos reprodutivos, direitos sexuais e dos direitos humanos, ecológico, popular, comunitário e sindical – a sub-representação feminina nas estruturas formais da política permanece, ainda, um dos principais desafios a ser enfrentados pelos países democráticos. Em âmbito mundial as mulheres representam somente 12% dos assentos parlamentares e ocupam 11% dos cargos de presidência dos partidos políticos. De acordo com cálculos das Nações Unidas, mantido o ritmo atual de crescimento da participação feminina em cargos de representação, o mundo levará 400 anos para chegar a um patamar de equilíbrio de gênero. O Brasil integra o grupo de 60 países com o pior desempenho no que se relaciona à presença de mulheres no parlamento – pouco mais de 10% nos espaços Legislativos. Pois é! A partir de 1995 com a aprovação da política de cotas que instituiu as normas para a realização das eleições municipais do ano seguinte, determinou-se uma cota mínima de 20% para as candidaturas de mulheres. Dois anos depois a Lei nº. 9504/97 estende a medida para os demais cargos eleitos por voto proporcional - Câmara dos Deputados, Assembléias Legislativas Estaduais e Câmara Distrital - e altera o texto do artigo, assegurando não mais uma cota mínima para as mulheres, mas uma cota mínima de 30% e uma cota máxima de 70%, para qualquer um dos sexos. Embora a adoção da política de cotas tenha estimulado o movimento de mulheres a organizar atividades destinadas a melhor preparação das candidatas - motivando lideranças feministas a se candidatarem e discutindo plataformas que priorizem as particularidades das mulheres - infelizmente, ainda são insuficientes as mudanças substantivas no cenário político brasileiro. Por tudo isso, não podemos esquecer das brasileiras do passado, consideradas transgressoras dos costumes sociais e canônicos, que com suas atitudes ousadas e de vanguarda, deram início a uma série ininterrupta de conquistas femininas, resultando há 166 anos atrás no acesso à educação formal, há 80 anos no direito ao voto, há 26 anos na igualdade plena na Constituição Brasileira e há um ano, nas eleições de 2010, concretizaram a presença de uma mulher na Presidência da República. Nos últimos 80 anos o mundo assistiu a grande mudança na condição das mulheres. De coadjuvantes da história, passaram a protagonizar seus destinos e desejos. Mesmo assim, ainda vivemos numa sociedade dividida em classes sociais, estruturada nas desigualdades de gênero e raça, e assentada em uma cultura política carregada de discriminações e preconceitos. Neste contexto, compreendemos que a justa representação das mulheres na política ainda depende de muita luta e de um sistema político que assegure a participação democrática de todas e todos. Schuma Schumaher é feminista, educadora social, co-autora do Dicionário Mulheres do Brasil e Mulheres Negras do Brasil e Coordenadora executiva da Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh). Rio de janeiro, 24 de fevereiro de 2012. (fonte: http://www.feminismo.org.br/livre/)

fevereiro 14, 2012

Não é proibido brincar de boneca!

A grande mídia, e o Brasil, denominaram de “Caso Eloá”: o da garota de 15 anos de idade, mantida em cárcere por dias, espancada e assassinada pelo namorado. Isto foi em 2008, em Santo André (SP). Não pretendo falar do julgamento, nem das implicações que, comumente, são consideradas em “casos” semelhantes. Não sou jurista e pouco entendo de temas policiais. Para o “Caso Eloá”, proponho uma reflexão, dessas que não vão dar “Ibope” pra nenhuma emissora de TV, nem aumentar o número de tags no Twitter, muito menos levar leitores às páginas dos jornais. Não. A proposta é a de tentar calcular em que momento uma menina de 15 anos de idade, antes de perder a vida, há de ter perdido a infância. Quando a menina se esqueceu de ser menina. Você pode refutar e proclamar que a debutante de hoje, não é mais a adolescente de 5, 10, 20 anos atrás. Os tempos são outros. Insisto, porém, em dizer que não me sinto confortável em ver meninas (e meninos) de 10, 11, 12 anos de idade, envolvidas em relacionamentos “amorosos”. Não me sinto bem. Sou de uma “época” em que as meninas de 10, 11, 12 anos de idade passavam horas a fio brincando de casinha, pulando corda, jogando boleado e freqüentando escola – pública. A "nossa" Eloá mantinha um relacionamento amoroso (o que é mesmo o amor?) com o seu futuro algoz, desde os 12 anos de idade, ele que então saía da infância e entrava na adolescência. Ambos menores, ela ainda criança. Não se trata de saber se já eram maduros, se já tinham "cabeça" para um envolvimento tão delicado, mas descobrir porque não permaneceram imaturos, Cristo?! Não me digam que este é um “caso” isolado, repleto de precocidades, já que os “tempos são outros”, e tudo é permitido na criação dos filhos. E ai dos pais que queiram proibi-los de alguma coisa! Limites e conselhos são atitudes cafonas, para os pais dos tempos atuais. A principal indagação é: quem ou o que proibiu as meninas de brincar de boneca na idade em que elas deveriam brincar de bonecas, e os meninos de soltar pipas, a rodar pião ou jogar bola, na idade em que deveriam fazer estas coisas, tão “normais” em outros tempos? Mães ridicularizadas por oferecer à filha uma boneca para que a menina se distraia enquanto ela vai ao trabalho, se realizam quando as pimpolhas se mostram super felizes com a calça jeans “de marca” que acabaram de ganhar (e que será esquecido, assim que a febre de usá-lo passar). A grande curtição da garotada é a máquina digital, o celular, o computador. Com certa pitada de sensualidade. A pose, o sorriso “xis”, o trejeito, a foto, o clique! Já nos primeiros anos de escola, os meninos exibem suas mochilas e cadernos com seus “heróis preferidos” ou “carrões” supersônicos. E elas, cheias de glamour, carregam seus fardos, nas mochiletes estampadas com graciosas Barbies: brilhantes, estonteantes, perfeitas! Elas veneram a Barbie. Conheço muitas menininhas que colecionam bonecas. Se bem que tem uma turma frustrada que, embora as deseje, jamais terão uma Barbie pra admirar. Elas não brincam. Olham. Tateiam. Cheiram. E se projetam nelas. Elas querem ser uma Barbie. Uma Barbie Girl. E eles brincam de super heróis. Os justiceiros implacáveis! Com armas em punho, eles vão lá e Bang! Bang! Matam.

janeiro 27, 2012

Pinheirinho e os retratos do Brasil

Dentre tantas imagens geradas pela operação policial de “reintegração de posse” no Pinheirinho, em São José dos Campos, interior de São Paulo, a foto da idosa à direita desta página, poderia se tornar um ícone, apenas pelo fato de se tratar de uma mulher. Imagem de mulher (como já defendi, na postagem anterior) é um dos produtos que mais alimenta o mundo ocidental e mercantilista. As sociedades de consumo pregam o fundamentalismo da beleza a todo custo. Esta fotografia, publicada no portal Terra, que ilustrou uma das inúmeras reportagens sobre o mesmo tema, acabou se destacando entre outras, também, por ocasião da declaração dela, já como ex-moradora daquele bairro, apontando o dedo para o alto e dizendo mais ou menos: Deus está "vendo tudo", referindo-se à forma de despejo de que fora uma, entre centenas de outras vítimas. A despeito da propaganda, digo que a foto ao lado, reveste-se de tal beleza que transcende os parâmetros de beleza oficialmente aceitos, porque ensina. Os traços de expressão ensinam. As rugas ensinam. O olhar ensina. A lágrima também. Uma história presumível: um dia ela foi menina, depois moça, logo após, mulher. Filha, mãe, avó, bisavó. Dinheiro, muito pouco ou quase nenhum. Pobre (ser pobre não é pecado, nem vergonhoso). De passar fome, frio, solidão (a falta de amparo, sim é pecado, e também envergonha). De chorar escondida, num canto da casa. De enxugar o suor do rosto na manhã quente e calejar a mão ao final do dia. Mulher de rezar à noite para pedir “Deus, olhe por nós”. Uma vida sem desperdícios. De dias contados. Riscados cada um no calendário. Vencidos. Houve oportunidade de freqüentar escola, trabalhar fora de casa, criar os filhos com dignidade, ter um lar? Foi ela dona de um quintal que varreu, religiosamente, todos os dias. Quintal! Como é bom ter um quintal! Pra criar galinha, plantar alface e pendurar roupa molhada. É digno lavar roupa e estendê-la no varal do quintal da nossa casa. Quem e quantas de nós se identificam com esta imagem e com esta estória? A mulher velha e enigmática, retratando muitos brasis: os que existem e os que poderiam existir. Os reais e os que sonhamos, bem como os tristes, aqueles da fumaça das bombas, da tropa de choque, da correria, do medo, da revolta. Das crianças chorando, confusas, perdidas. Da violência, do despreparo, da arrogância. E dos abrigos. Do pós-guerra. Dos refugiados e apartados da terra, a caminho de lugar nenhum. Somos uma nação continental que rouba das velhas mulheres um irrisório pedaço de chão.

janeiro 18, 2012

Vamos dar uma espiadinha?

Beira surreal o debate sobre o suposto caso de violação dos direitos da Mulher no reality show mais “amado” do Brasil, cuja punição ao suspeito foi a “eliminação” e a “recompensa” para a suposta vítima, a permanência no jogo de disputa dos R$ 1,5 milhão. Confesso que estou exausta, pela tentativa de seguir, desde os primeiros tuites, e perseguir, até as últimas notícias e comentários, a polêmica gerada no #BBB 12. É preciso um esforço intelectual, muitas vezes acima da nossa real capacidade, para ler, assistir, interpretar, entender e formular juízo sobre um fato que, por sua natureza, é também repleto de subjetividades. A violência contra a mulher é tão enraizada em nossa cultura ocidental e mercantilista que ignoramos o fato mais óbvio: a mulher é um produto. Quanto vale a vida de uma mulher? Quanto pesa o seu caráter? Quanto custa o seu corpo, sua nudez e seu sexo? “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”, disse o poeta idolatrado por dez entre dez publicitários. O que dizer das mulheres “fruta”? Figuras grotescas, difíceis de engolir... Qual foi a última vez que você ouviu uma canção que exaltava a mulher ou que declarava admiração a ela? E dançar? Em que lugar você dançou sem precisar rebolar até o chão, mostrar a calcinha ou fazer mímicas sensuais? Particularmente, evito ir às festas dançantes, para não pagar o mico de não saber cantar/dançar o hit do momento, e ter que repetir o refrão que, geralmente, sacaneia a mulher. Ainda dizem que o mundo é das mulheres! Mas, em que sentido se, diariamente, somos violadas? A maioria dos canais de televisão no Brasil tem se lançado com voracidade na guerra pela conquista dos mercados consumidores. Até os “canais religiosos” vendem – e como vendem! – produtos. Um dos alvos prediletos nesta guerra é a mulher. Alguma dúvida? Senão vejamos: da ponta dos pés a dos cabelos, para cada centímetro (por dentro e por fora) do nosso corpo há um produto correspondente. Para cada ocasião, cada estação, cada idade, cada cidade, há uma roupa adequada. Há um comportamento certo, na hora certa, com a pessoa certa! Atenção, perigo! Não saia do padrão, para não ser alienada ou engajada, mulherzinha ou sapatão! E a televisão reproduz, com a maior cara de pau, todos os estereótipos existentes e ainda cria milhares de outros! Como é difícil ser simplesmente mulher num sistema que, covardemente, nos rotula e nos estigmatiza. As imagens do encontro íntimo entre os dois participantes do BBB foram fartamente veiculadas pelas redes sociais. Eram tão agressivas (excitantes para muitos) que geraram uma onda de preconceitos e ódios - manifestações de flagrante retrocesso. Há mais de uma década, este programa está no ar – programa bom é assim no Brasil – e em quase nada contribuiu para o processo de construção de uma sociedade melhor, mais justa e igualitária. Ao invés de se aperfeiçoar, degrada-se a cada edição, ao ponto de ocupar as páginas policiais. Fora BBB’s, Fazendinhas, porcarias que chamam de entretenimento! Afinal, quem sentiria a falta destes substratos da cultura de massa, se todos fossem banidos da nossa televisão?

janeiro 08, 2012

O rio que passou em minha vida

Acho que foi no ano de 1975, que minha família e eu morávamos no bairro do Cordeiro, no Recife, quando conhecemos a tragédia que é vivenciar uma enchente. Eu era criança ainda, e não entendia à época, como era possível aquilo acontecer, minha casa ficar submersa com tudo dentro: móveis, roupas, comida, brinquedos, fotografias e livros. Tudo foi destruído, total ou parcialmente, tudo o que tínhamos em casa. O bairro inteiro e praticamente toda a cidade, na mesma situação desesperadora. Havia poucos prédios, e menos ainda, prédios com muitos andares (ao contrário de hoje) e eram estes os refúgios mais imediatos e seguros. Quantas histórias a serem contadas de uma só vez?! Da varanda do andar de cima, onde nos abrigamos, junto a mais outras famílias vizinhas, eu fitava a enchente passando pela rua (a rua do passeio de bicicleta, do boleado e pula-corda nos bons tempos secos) atenta aos objetos que flutuavam com a correnteza: botijões de gás, pneus, pedaços de madeira, garrafas vazias, animais e plantas. E até gente. Sob bóias improvisadas de câmara de pneus ou jangadas improvisadas de portas de madeira. Pode parecer poético, mas o é somente aos olhos de uma menina que admirava, com sua inocência, a transformação súbita da paisagem, sem considerar os danos irreparáveis causados pelos caprichos da Natureza e pela burrice dos homens que ignoram os caprichos da Natureza. Por que não saímos antes de tudo desaparecer sob as águas? Podíamos viajar para Carpina, para a casa de tia Iaiá! Por que não salvamos nossas coisas, deixando afundar nossas recordações? Tenho muita saudade dos livros que não pude ler cujas páginas se degradaram junto com a lama e o lixo que ficaram depois. Até o nosso carro, um Veraneio, azul-esverdeado, ficou submerso na garagem, sem ter para onde ir - o mesmo que nos levava aos domingos para Boa Viagem e Itamaracá, nos belos dias de sol! O mau cheiro! Convivemos anos com o cheiro de lama que impregnou as paredes, o assoalho e os poucos objetos salvos! Fato é que, por mais evidente e iminente, a gente não quer acreditar no pior. Deixamos nos surpreender, não sem ônus, por uma fatalidade fatídica. Não cremos, há tempo, que o rio que corta a cidade, que nos dá peixe e fartura, que admiramos à noite com a réstia de luz do luar, será o mesmo capaz de transbordar e invadir nossas ruas, praças e quartos. Que suas águas, antes doces e serenas, vão correr pra qualquer lugar com fúria e, ao passar pelas escolas, igrejas e hospitais, carregar tudo o que estiver solto e soltar tudo o que estiver preso. Sim, as enchentes podem arruinar vidas, destruir histórias e soterrar sonhos. O que dizer para a menina que, neste momento, está olhando o rio passar por dentro da casa dela, carregando tudo para bem longe, para nunca mais ver? Se eu pudesse, diria a ela o que é mais importante: não desistir. Emergir ao caos e ao tempo e sobreviver.