maio 07, 2012

Frangmentos 3

Cultivara a lembrança e pressentia a doce tormenta acabar. Chegara tão perto dele, tocando-lhe o rosto de vidro que o cheiro imaginava, a voz inventava, o pensamento fingia. Reconhecia o delírio, limitando-se a deixá-lo ficar. Quem saberia? Quem mediria o tamanho da secreta obsessão? Um luxo poder ver sem ser visto. Sofisticação emocional. Uma vida dentro da vida. No poste, a lâmpada iluminava a noite com um tom desbotado. Tonta de sono peneirava cada palavra. Esfarinhava em versos o silencioso redemoinho de ideias a torturar o corpo. O corpo era capaz de transpirar tudo, pulsar a cada sentido, sentir. Um vento suave e necessário entrava empurrando janelas e portas que se debatiam timidamente. De que serve o fim, ela agora se interrogava. O fim é suportável, previra. Para o fim não é preciso motivo. O fim vem. Chegando, se espalha sobre a cama, absorve-se num sonho e desperta.

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