maio 14, 2012

Fragmentos IV

Conquistara a mais pura independência: a do pensamento. Convinha sacudir todo o susto na direção do vício. Nada temia nada menosprezava. O pôr-do-sol se punha, restaurando a delicada tarefa de mudar as cores de tudo. As sombras surgiam, por mais transparentes que fossem dando contornos ao que via pela frente. Ela não acalentava culpa. Sofismava, enternecida, diante do óbvio. Grande era por demais a janela, ilimitados os seus domínios. Respirara fundo. Comia as próprias unhas com fome de entendimento e se entediava. Nem tudo tem explicação, concluíra. Palpitava o coração, dedilhavam os dedos. Havia uma dose de redundância inestimável, ao repetir o nome dele. Tantas vezes que, desconfiava, ele poderia ouvir. Um silêncio que fala só é possível na sedução. Desistira de seduzi-lo. Uma guerra perdida lamentou, mas sem tristeza. Há canções incuráveis e repertórios ocultos. A esperança foi derrotada. Era mais difícil ficar sozinhos que livres. Ironicamente.

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