maio 14, 2012

Mais um Fragmento

Ele poderia cruzar o seu caminho, de forma inesperada, mas não a reconheceria. Era dado às longas e excêntricas viagens. Lembrar, ele não lembrava. Mas, podia estar em qualquer lugar e não estar em lugar algum, tudo ao mesmo tempo. Era preciso vigiá-lo e estar tentada a não perdê-lo, mas a perder-se de vista. Logo ali, estava o mar, o mais belo de todos, com seu perfume salgado e suas rendas. Ele estivera ali, sentia-lhe a ausência, já muito distante. Insistira, embora cansada, num rápido olhar, vertical e horizontalmente. O que teria lhe chamado mais a atenção, indagara. O fluxo inquietante dos carros a disputar o asfalto com os transeuntes? A teimosia ambulante engolindo a calçada e expulsando os vazios? Os anônimos apressados e atravessados por todos os cheiros? Tanto quanto ele, ela tropeçara nos restos de coisas e líquidos no chão. A bem dizer, por um lapso, eles se cruzaram no caminho, mas em tempos distintos. Ele galopava, sempre de volta. Ela precisava ir, e ia.

Nenhum comentário: