julho 17, 2012

Desfragmentando

Na agonia da espera, ela andou pelas ruas de raros transeuntes que se deleitavam assim. Pôde sentir o vento bater na copa das árvores, resfriando uma ou outra sombra. Ver no chão de cimento pequenas sementes alimentando passarinhos de vôos rasantes. Observava com predileção os resquícios do abandono nas casas e vãos, e os ambulantes sonolentos. Pequenas sementes alimentam pequenos pássaros. E quanto ao vôo das grandes asas? Para voar muito alto, bastavam pequenas sementes, concluíra. Antes do apagar das luzes, todos os pássaros deveriam voltar e pousar. Haveria silêncio. Ela o procuraria nos vazios noturnos. Pensamentos são feitos de éter e efeitos do desejo. Pareceu-lhe vívido o sonho e real, a miragem. Olhando-a, ele não a enxergava. Contentava-se com esta alegria que ele a emprestava, sem saber. Descobrira uma certeza, insólita, que os tornava mutuamente presos. As cortinas abririam o espetáculo e desnudariam primeiro a ele, depois a ela. Ao rodopiar pelo salão, todos descobririam a essência daquela valsa.

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