agosto 15, 2012

Um Novo Fragmento

Sentira saudade de si e das coisas simples. As flores podiam ser apalpadas, mas nada perfumavam em torno delas. Poucas emoções a comoviam mais que a poesia. O peso daquele sonho já se fazia sentir no cansaço. Deveria entregar-se à aventura de respirar profundamente e recriá-lo. A madrugada chegava trazendo sua fria neblina, mas ela o esperava desde a véspera, aquecendo-se com a vastidão das lembranças. Lembrar não era bem recordar, mas viver de forma ininterrupta o sonho. Quantas vezes bateria à porta do imaginário e recorreria à virtualidade daqueles dias, desconsiderava. Entediava-lhe a possibilidade absurda dele suspeitar. Por entre carícias, ia cingindo seu olhar no dele, numa busca incansável de todas as tentações. Havia arte na palma da mão em sombra, ele criara para que pudessem admirá-lo e perpetuá-lo. Um rei jamais perderá seu trono por negligência ou puerilidade, mas se assim o desejar nada restará aos súditos senão a recusa. Dobrar-se-ia, num gesto nobre, somente para dar a ela as boas vindas?

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