"Se você não quer ser esquecido quando morrer, escreva coisas que vale a pena ler ou faça coisas que vale a pena escrever".
junho 10, 2012
Fragmentar ou Esquecer?
O vento morno do entardecer começava a soprar pelas frestas da casa. Despedaçado em pequenos fragmentos de luz, o sol era vencido. O mormaço ia quebrando-se. Ouvia-se um cântico de amor, desejo e dor. Um lamento tomou o silêncio nos braços. De lamento nos braços, ela o embalou. A poeira teimava em se assentar no chão, já cansada de tanto flutuar. Ficara satisfeita em sentir o cheiro de chuva caída na terra estorricada de tanto calor. A terra ardia e respirava, ardia e respirava. Era possível ver a terra rachando de tanto sorrir. Mas, ela lembrou daquele sorriso que estalara seu coração da beleza que era. Chorou como a chuva que chora sobre a terra seca. De lágrimas quentes derramava do rosto a poeira do dia. Dia que queria se derreter e sumir. Esvair-se e gotejar. A secura de tudo recebera as lágrimas que o tempo procurou represar, e não conseguiu. Ela podia gotejar cada lembrança inventada. Como era densa e impalpável, aquela doce ilusão evaporava-se tanto quanto surgia. Decidira ela conjugar o verso fragmentar. O inverso era esquecer. E ela não o esquecia.
junho 07, 2012
No princípio eram fragmentos
Mas o que era o amor? Ousara amar, sem saber. Havia ele lhe ensinado a música. A música que subjaz na poesia, que a supera e, liberta, vai ao coração. Mostrara-lhe o mar. Não é apenas azul, ressaltara. Disse-lhe com voz ondulada ser o mar expressão de vida. Vida imersa. Que emerge. Um amor que pensara ela podia salvar vidas. E vivo livrá-la do naufrágio. Proibido, não sucumbiu à solidão. Sozinha ela seguia nos dias e noites e madrugadas que surgiram inconsistentes, em cores flutuantes. Perdurou nos dias quentes, nas tardes frias se perdeu. Cega, via-lhe em sonho. Nos outros amores. Quando assim não o via, procurava-o mesmo em nenhum lugar, apenas procurava. E o encontrava. Sem desejar. Por mais distante que estivesse, por mais irreal que fosse. Por mais que não estivesse, não acontecesse, era. Desta estória, podia ela contar, mas nada era contínuo. Ela fracionava em sustos de lembranças, inseguras, imprecisas, suspeitas. Retalhos de imagens.
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