agosto 15, 2012

Um Novo Fragmento

Sentira saudade de si e das coisas simples. As flores podiam ser apalpadas, mas nada perfumavam em torno delas. Poucas emoções a comoviam mais que a poesia. O peso daquele sonho já se fazia sentir no cansaço. Deveria entregar-se à aventura de respirar profundamente e recriá-lo. A madrugada chegava trazendo sua fria neblina, mas ela o esperava desde a véspera, aquecendo-se com a vastidão das lembranças. Lembrar não era bem recordar, mas viver de forma ininterrupta o sonho. Quantas vezes bateria à porta do imaginário e recorreria à virtualidade daqueles dias, desconsiderava. Entediava-lhe a possibilidade absurda dele suspeitar. Por entre carícias, ia cingindo seu olhar no dele, numa busca incansável de todas as tentações. Havia arte na palma da mão em sombra, ele criara para que pudessem admirá-lo e perpetuá-lo. Um rei jamais perderá seu trono por negligência ou puerilidade, mas se assim o desejar nada restará aos súditos senão a recusa. Dobrar-se-ia, num gesto nobre, somente para dar a ela as boas vindas?

agosto 08, 2012

Candidata à reeleição frustra audiência e eleitores

Distinção importante entre o significado de duas palavras parecidas: DEBATE e EMBATE. São sinônimas da primeira palavra: “discussão, contestação, altercação” e da segunda palavra, “pancada, oposição, resistência”. DEBATER é discutir, disputar, contestar. EMBATER é colidir, esbarrar. Vou ter a ousadia de discorrer sobre a impressão que me causou a “não presença” da candidata à reeleição ao DEBATE proposto pela Jacobina FM, nesta terça-feira (07/08), a partir das considerações sobre as diferenças gramaticais entre duas palavras graficamente semelhantes. Penso que os “embates” ocorreram de maneira mais evidente em cada uma das entrevistas dos três candidatos, nos dias 21 e 28/07 e 04/08, respectivamente. O DEBATE proposto pela emissora recebeu dos candidatos naquelas ocasiões, não só a aprovação da iniciativa, como também a aceitação do convite para eles participarem do evento programado. Para alguns observadores atentos não foi surpresa a “não presença” da candidata à reeleição, já que (relembraram) o mesmo comportamento ocorrera em 2008. Para muitos, no entanto, o sentimento foi de grande frustração, sobretudo para os ouvintes da respeitada e histórica Jacobina FM, mas especialmente para os eleitores jacobinenses. É preciso entender que o eleitorado local está exercendo o seu direito inalienável de analisar cada um dos candidatos, no atual contexto político, antes de premeditar a escolha. Ainda não foi “batido o martelo” quanto à preferência de voto, a despeito de se espalhar pela cidade, o “mercado negro” da compra de votos que, supõe-se, vem sendo movimentado por determinado grupo político-econômico. Mas, o eleitor está mais atento, mais informado, mais consciente e, espera-se, não cairá nas armadilhas deste famigerado “leilão de consciências”. O eleitor quer “errar menos” ou “acertar mais” na escolha de seus candidatos, porque sabe que da sua escolha resultará o avanço, a estagnação ou o retrocesso do seu município. O eleitor tem o direito de conhecer o mais completamente possível os homens e mulheres que se candidatam aos cargos eletivos: a biografia, a formação, o temperamento, assim como seus projetos e ideologia. O passado de cada um. As contradições, os erros, os acertos. Aliás, é dessa análise, é deste “pensar” que será construído o voto consciente, este que “não tem preço”. Na era da Tecnologia ao alcance de todos e todas não se pode simplesmente desprezar a oportunidade de estar em contato, dialogando com o seu eleitor. Dada a importância do rádio na difusão de ideias e no processo de democratização da informação é inconcebível que um agente público (ou que almeje se tornar um agente público) possa prescindir de uma ferramenta de tamanho alcance e influência como o é o rádio para nossa cultura local. Os “embates” ocorreram com as apresentações, propostas e respostas que foram ao ar na íntegra (e ao vivo). Ao que me parece, não houve de nenhum dos entrevistados, quaisquer declaração que resultasse em insulto, calúnia, desrespeito, difamação ou ofensa em relação aos outros. Houve um “embate político” e não pessoal. Sentindo-se “caluniados, difamados, ofendidos” com declarações de seus concorrentes nas entrevistas individuais teriam os demais o “direito de resposta”? Quando? Em qual espaço? Penso que, se o fato tivesse havido, a melhor oportunidade que teriam para se “defender” de supostas acusações seria justamente no DEBATE, espaço reservado por lei para que candidatos, em pé de igualdade, possam expor seus sentimentos e desafetos, com direito a réplica e tréplica. Fugir ao DEBATE POLÍTICO não é uma atitude dos “mais fortes” e esta “tática” já está com seus dias contados!

agosto 02, 2012

O JULGAMENTO DA HISTÓRIA

"No verdadeiro julgamento da história, pouco importa o que cada personagem pensa de si; o fator relevante é a posição que ocupa no conflito de interesses que desloca a fronteira do possível na vida de um povo e de uma época. Objetivamente, no Brasil, nos últimos dez anos, essa fronteira se mexeu - não sem contradições, tampouco à margem de tropeços e fortes resistências; mas se moveu e o fez em direção a um horizonte em que a questão social passou a ser um divisor relevante da equação política. O saldo deslocou a relação de forças: o Brasil é hoje o país menos desigual de sua história, ainda que conserve um legado de barbárie em seu metabolismo. Não se trata de uma contabilidade exclamativa; são estatísticas, não apenas as do IBGE; as urnas referendaram esse trânsito inconcluso; primeiro, com uma aposta, em 2002; depois com uma repactuação assertiva, em 2006 e 2010. O julgamento que se estende de hoje até a 1ª quinzena de setembro no STF pretende, a rigor, sustentar que esse percurso cuja capilaridade contagiou a estrutura, o discernimento, a auto-estima e o imaginário da sociedade, resumiu-se a uma fraude. Um 'mensalão' de R$ 30 mil per capita, pago à base aliada, teria sido a alavanca dos enfrentamentos que moveram a história a partir de 2003. O fato de que pretendam reduzir a potência desse período a um truque judicialmente enquadrável, ademais de externar algum desespero, diz quase tudo sobre a disposição passada, e os planos futuros, dos interesses que por 45 dias tentarão reduzir a travessia de uma década a um complô contra o interesse público". (WWW.cartamaior.com.br)